terça-feira, 26 de novembro de 2024

 

O HINO NACIONAL BRASILEIRO E SEU

ENVOLVIMENTO COM A HISTÓRIA

 

 

PDG MJF ANTONIO DOMINGOS ANDRIANI (*)

 

 

O Hino Nacional faz parte integrante do protocolo leonístico, principalmente durante nossas Reuniões e Convenções Distritais, bem como nos eventos oficiais dos Distritos Múltiplos.

 

         Levado pela curiosidade, e dentro daquela que julgo ser minha missão de garimpeiro do leonismo, procurei vasculhar os arquivos na busca de dados que revelassem um pouco da bonita história deste que é um dos símbolos do Brasil, e descobri coisas interessantes.

 

         Muitos brasileiros, infelizmente, ainda desconhecem os nomes dos autores da melodia e da letra do Hino Nacional:  Francisco Manuel da Silva (música) e Joaquim Osório Duque Estrada (letra).  Aliás, quanto aos autores, NEM ELES MESMOS SE CONHECIAM.  Ficou surpreso?  O fato é este:  o autor da melodia, Francisco Manuel da Silva, jamais conheceu o autor da letra, Joaquim Osório Duque Estrada, pela simples razão de que quando o primeiro morreu (1865), o segundo ainda nem tinha nascido (1870).

 

         O registro também chamou minha atenção.  E dentro da minha garimpagem, encontrei explicação para o fato em uma coletânea que foi publicada pelo Distrito LC-10 no ano leonístico 2003-2004, de cujos registros estou me valendo em parte, resumindo e repassando para os eventuais interessados.

 

         O conhecimento do Hino Nacional talvez fosse mais abrangente se houvesse uma maior divulgação dos momentos históricos que envolveram sua melodia e sua letra.

 

         Segundo a coletânea referida acima, a história do nosso hino começa num cenário parecido com um certo momento da vida de um dos maiores gênios da música universal, o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), que foi perseguido (e invejado) pelo italiano Antonio Salieri (1750-1825), o músico mais influente na corte vienense da época.  Aqui, o papel equivalente ao de Salieri era desempenhado pelo maestro Marcos Portugal, mestre lusitano da Capela Imperial ao tempo de D. Pedro I, enquanto o padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) e seus discípulos seriam entre nós o equivalente a Mozart.

 

         Nos anos seguintes à Independência proclamada em 07 de setembro de 1822, o imperador D. Pedro I alternou acertos e erros que, com o passar dos anos, criaram um clima de animosidade entre ele e os brasileiros.  O primeiro passo teria ocorrido na noite da Independência, no Teatro Ópera de São Paulo, quando fez entoar, como hino da nova pátria, aquele que tem letra de Evaristo Ferreira da Veiga (Já podeis da pátria filhos / Ver contente a mãe gentil / Já raiou a liberdade / No horizonte do Brasil).  A melodia é atribuída ao próprio D. Pedro I, mas na época havia forte suspeita de que o autor verdadeiro fosse o antipatizado maestro Marcos Portugal.

 

         Entre os músicos brasileiros, especialmente o brilhante e impetuoso Francisco Noel da Silva, discípulo do padre José Maurício, existia indisfarçada rejeição àquele hino que só os portugueses cantavam.  Os sentimentos contra o imperador chegaram ao ponto máximo no dia 07 de abril de 1831, quando ele finalmente resolveu abdicar em favor do seu filho ainda criança, o futuro D. Pedro II.  Alguns dias depois, em 13 de abril, quando D. Pedro I e seus seguidores mais fiéis (inclusive Marcos Portugal) embarcaram rumo a Lisboa, diante do cais músicos brasileiros tocaram pela primeira vez a melodia de Francisco Manuel da Silva que se tornaria eterna como a do nosso Hino Nacional.  Só que a letra daquele dia louvava o 07 de abril da abdicação e, em dado momento, referia-se aos portugueses como monstros.

 

         Além dessa, insultuosa aos portugueses, a melodia de Francisco Manuel da Silva recebeu várias outras letras, adequadas a diferentes ocasiões, como a coroação de D. Pedro II (em 1841), mas eram versos pobres, pouco inspirados.  Era, de todo modo, a melodia que o brasileiro solfejava, quando perguntado sobre o Hino Nacional.

 

         Na Proclamação da República (15 de novembro de 1889), os novos dirigentes do Brasil encomendaram ao maestro Carlos Gomes um Hino Nacional que ficasse como definitivo.  Admirador e amigo do imperador deposto, que o sustentara em sua evolução musical na Itália, o grande Carlos Gomes declarou-se impedido de atender à solicitação.  Os novos republicanos decidiram então promover concurso, em que os candidatos criariam melodia para os versos de Medeiros e Albuquerque.  Isto foi sacramentado e publicado no Diário do Comércio do Rio de Janeiro, em 26 de novembro de 1889.

 

         Em primeiro lugar ficou a melodia do farmacêutico Ernesto Fernandes de Souza, mas a mais aplaudida foi a do maestro Leopoldo Miguez.  Presente à sessão, no Teatro Santana, o presidente Deodoro da Fonseca declarou sua preferência pela melodia de Francisco Manuel da Silva, que nem entrara no concurso – mas acabou sendo oficialmente escolhida, conforme decreto lido ali mesmo pelo ministro do Interior, Aristides Lobo.  A composição de Leopoldo Miguez e Medeiros e Albuquerque ficaria então como o Hino da Proclamação da República.

 

         Faltava, de todo modo, a letra para a melodia de Francisco Manuel da Silva, como lembrou o romancista Coelho Neto em 1906, ao propor à Câmara dos Deputados a escolha de um novo poema.  A proposta foi aprovada e se escolheu, em 1909, a letra do poeta, escritor e ensaísta Joaquim Osório Duque Estrada.  A oficialização do casamento entre os versos de Duque Estrada com a melodia de Francisco Manuel da Silva somente ocorreria mais de dez anos depois, em 1922, no solene Centenário da Independência, por decreto assinado pelo então presidente Epitácio Pessoa.

 

         Passaram-se quase cem anos, portanto, entre a primeira execução da melodia (1831) e sua forma final como Hino Nacional (1922).  Foi, sem a maior sombra de dúvidas, um caso raro de resistência ao tempo.

 

         Os fatos que reportei acima são relativos à parte histórica do Hino Nacional Brasileiro.

 

         Agora, atualmente, na parte prática da execução do Hino, ainda existem inúmeras discrepâncias que são observadas no seu dia-a-dia, inclusive entre nós, Leões e Domadoras, especialmente no que diz respeito à observação do protocolo leonístico.  São falhas que chegam denegrir a imagem do hino pátrio.  E elas são muitas!  Mas, somente para exemplificar, vou tentar comentar uma delas:

 

         POR QUE OLHAR PARA A BANDEIRA QUANDO SE CANTA O HINO NACIONAL BRASILEIRO?

 

Vou exarar um ponto de vista que poderá causar polêmica e, quiçá, muita pancadaria para cima de mim.  Só que tenho opinião formada a respeito e a mantenho!  E não mudo minha opinião!

 

         Lei é lei, respeito é respeito, protocolo é protocolo. 

 

O Brasil possui quatro símbolos oficiais:  o Brasão, o Selo, o Hino e a Bandeira.

 

         É comum e protocolar, em alguns eventos leonísticos, como nas Convenções e Reuniões Distritais, cantar-se o Hino Nacional e a primeira estrofe e coro do Hino à Bandeira.

 

         Quando se canta o Hino à Bandeira (primeira estrofe e coro), é dever cívico dos presentes (mesa dirigente e plenária) voltar-se respeitosamente para o Pavilhão Nacional, pois o canto está sendo entoado em sua homenagem.

 

         Agora, o que não consigo entender até hoje, em mais de quarenta e seis anos de vida leonística, é porque, quando se canta o Hino Nacional, em qualquer solenidade, uma grande parte dos nossos Companheiros-Leões, Companheiras-Leões e Domadoras ainda se voltam para a Bandeira do Brasil.  Ora, o que está se cantando é o Hino Nacional e não o Hino à Bandeira.  Poderá algum contestador argumentar que isso é sinal de respeito ao Pavilhão Nacional.  Assim não entendo.  Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.  Respeito é uma coisa e falta de respeito é outra coisa.

 

         Tome-se por exemplo quando o Hino Nacional é executado antes de uma partida de futebol nos dias de hoje.  Os jogadores, muitos sem qualquer respeito, ficam perfilados olhando para a Bandeira do Brasil.  Uns não cantam, outros ficam mascando chicletes, cuspindo, olhando para os lados e até coçando partes íntimas do corpo.  Sem falar nos torcedores, que ficam pulando e fazendo algazarra o tempo todo.  Onde está o respeito?  E não venham me dizer que futebol é cultura brasileira e diferente de uma solenidade leonística.  O hino não está sendo executado?  Então o respeito deve ser geral e em todos os lugares.  Ademais, em campo de futebol executa-se o Hino Nacional.  Então, por que os jogadores olham para a Bandeira?   O Hino Nacional não tem nada a ver com a Bandeira do Brasil.

 

         Quando se canta o Hino à Bandeira, todos devem voltar-se para o Pavilhão Nacional.  Quando se canta o Hino Nacional, cada um deve se manter em posição de respeito e olhando para frente:  os componentes da mesa dirigente para a plateia, e esta para a mesa dirigente.

 

         Este é meu ponto de vista que, repito, não mudo!

 

Fiz a pesquisa, e o breve resumo aqui exposto, em homenagem àqueles Companheiros-Leões, Companheiras-Leões e Domadoras que, eventualmente, tenham interesse em se alongar pelo menos um pouco no conhecimento do nosso glorioso Hino Nacional.

 

         Um fraterno abraço leonístico a todas e a todos

 

 

 

 

 


 

 

(*)      Associado do Lions Clube de Ribeirão Preto-Jardim Paulista (LC-6)

                Ex-Governador 1997-1998 do Distrito L-17 (atual LC-6)

                Membro da AGDL-Associação dos Governadores dos Distritos Múltiplos ”L” Brasil

                Confrade da APLIONS-Apaixonados por Lions

                E-mail:  andriani.ada@gmail.com

               

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