A INCLUSÃO DO “AUTISMO” COMO
UMA DAS
CAUSAS GLOBAIS DE LIONS INTERNACIONAL
PDG MJF ANTONIO DOMINGOS ANDRIANI (*)
A
Diretoria de Lions Internacional, nos últimos anos, vem procurando situar o
movimento leonístico dentro da modernidade, colocando-o ao alcance da
globalização.
Tempos
atrás, sentindo a vontade dos Leões em se multiplicarem além das fronteiras,
oceanos e continentes, e sentindo a vontade de verdadeiramente mudar nosso
mundo, Lions Internacional reuniu nosso serviço em torno de 5 áreas de
necessidade. Foi assim que surgiram
nossas CAUSAS GLOBAIS voltadas para câncer infantil, diabetes, fome, visão e
meio ambiente. Essas causas globais
apresentavam e apresentam desafios significativos para a humanidade, creditando
ao nosso movimento uma forma de enfrenta-los.
Durante
o ano leonístico de 2023, apesar de já estar causando impacto em todo mundo com
aquelas cinco áreas de necessidade, Lions Internacional decidiu oficializar
outras 3 causas globais às 5 até então existentes, que são juventude, serviços
humanitários e socorro às vítimas de catástrofes.
Tanto
é que, atualmente, são oito as CAUSAS GLOBAIS que o leonismo oferece para
atendimento às necessidades comunitárias em todo mundo, visando enfrentar a
globalização que está à nossa frente.
Estou
sugerindo, agora, a apresentação de um fato novo para que seja incluído em
nossas causas humanitárias.
O
transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento
caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais,
déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamento
repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de
interesses e atividades.
Os sinais de
alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros
meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de
idade, e a prevalência maior é registrada no sexo masculino.
A
identificação de atrasos no desenvolvimento, o diagnóstico oportuno de TEA e
encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio educacional na idade
mais precoce possível, pode levar a melhores resultados a longo prazo,
considerando a neuroplasticidade cerebral.
Segundo o “Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DMS-5” (referência
mundial de critérios para diagnósticos), pessoas dentro do espectro podem
apresentar déficit na comunicação social ou integração social (como nas
linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional) e padrões
restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses
fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. Segundo especialistas, todos os pacientes com
autismo partilham estas dificuldades, mas cada um deles será afetado em
intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares. Apesar de ainda ser chamado de autismo
infantil, pelo diagnóstico ser comum em crianças e até bebês, os transtornos
são conceitos permanentes que acompanham a pessoa por todas as etapas da vida.
O
tratamento oportuno com estimulação precoce deve ser preconizado em qualquer
caso de suspeita de TEA ou desenvolvimento atípico da criança,
independentemente de confirmação diagnóstica.
As
causas do TEA, pelo que se publica, não são totalmente conhecidas, e a pesquisa
científica sempre concentrou esforços no estudo da predisposição genética,
analisando mutações espontâneas que podem ocorrer no desenvolvimento do feto e
a herança genética passada de pais para filhos.
No entanto, já há evidências de que as causas hereditárias explicariam
apenas metade do risco de desenvolver TEA.
Fatores ambientais que impactam o feto, como estresse, infecções,
exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e
desequilíbrios metabólicos teriam o mesmo peso na possibilidade de aparecimento
do distúrbio.
A
etiologia do espectro autista, pelo que se divulga, ainda permanece
desconhecida. Evidências científicas
apontam que não há uma causa única, mas sim a interação de fatores genéticos e
ambientais. A interação entre esses
fatores parece estar relacionada ao TEA, porém é importante ressaltar que
“risco aumentado” não é o mesmo que causa fatores de risco ambientais. Os fatores ambientais podem aumentar ou
diminuir o risco de TEA em pessoas geneticamente predispostas. Embora nenhum desses fatores pareça ter forte
correlação com aumento e/ou diminuição dos riscos, a exposição a agentes
químicos, deficiência de vitamina D e ácido fólico, uso de substâncias (como
ácido valpróico) durante a gestação, prematuridade (com idade gestacional
abaixo de 35 semanas), baixo peso ao nascer, gestações múltiplas, infecção
materna durante a gravidez e idade parental avançada são considerados fatores
contribuintes para desenvolvimento do TEA.
Evidências
indicam influência de alterações genéticas com forte herdabilidade, mas
trata-se de um distúrbio geneticamente heterogêneo que produz heterogeneidade
fenotípica (características físicas e comportamentais diferentes, tanto em
manifestação como em gravidade). Apesar
de alguns genes e algumas alterações estarem sendo estudadas, os especialistas
da área ressaltam que não há nenhum biomarcador específico para TEA.
O
diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da
criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. Instrumentos de vigilância do desenvolvimento
infantil são sensíveis para detecção de alterações sugestivas de TEA, devendo
ser devidamente aplicados durante as consultas de puericultura na “Atenção
Primária da Saúde”. O relato/queixa da
família acerca de alterações no desenvolvimento ou comportamento da criança tem
correlação positiva com confirmação diagnóstica posterior, por isso, valoriza o
relato/queixa da família e é fundamental durante o atendimento da criança.
Manifestações
agudas podem ocorrer e, frequentemente, o que se consegue é observar são
sintomas de agitação e/ou agressividade, podendo haver auto ou
heteroagressividade. Estas manifestações
ocorrem por diversos motivos, como dificuldade em comunicar algo que gostaria,
alguma cor, algum incômodo sensorial, entre outros. Nestes momentos é fundamental tentar
compreender o motivo dos comportamentos que os profissionais observam, para
então propor estratégias que possam ser efetivas. Dentre os procedimentos possíveis os
profissionais especialistas indicam:
estratégias comportamentais de modificação do comportamento, uso de
comunicação suplementar e/ou alternativa como apoio para compreensão/expressão,
estratégias sensoriais, e também procedimentos mais invasivos, como contenção
física e mecânica, medicações e, em algumas situações, intervenções em unidades
de urgência/emergência.
O
TEA é resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está
relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.
O
TEA afeta o comportamento da criança, e que, os primeiros sinais podem ser
notados em bebês nos primeiros meses de vida.
No geral, uma criança com transtorno de espectro autista pode apresentar
os seguintes sinais: 1) Dificuldade para
interagir socialmente, como manter o contato visual, identificar expressões
faciais e compreender gestos comunicativos, expressar as próprias emoções e
fazer amigos; 2) Dificuldade na
comunicação, caracterizado por uso repetitivo da linguagem e dificuldade para
iniciar e manter diálogo; 3) Alterações
comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas,
interesse intenso em coisas específicas e dificuldade de imaginação.
O
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 rotula estes
distúrbios como um espectro justamente por se manifestarem em diferentes níveis
de intensidade. Uma pessoa diagnosticada
como de grau 1 de suporte apresenta prejuízos leves, que podem não a impedir de
estudar, trabalhar e se relacional. Um
indivíduo com grau 2 de suporte tem um menor grau de independência e necessita
de algum auxílio para desempenhar funções cotidianas, como tomar banho ou
preparar sua refeição. Já o autista com
grau 3 de suporte vai manifestar dificuldades graves e costuma precisar de
apoio especializado ao longo da vida.
Por
outro lado, o diagnóstico de TEA pode ser acompanhado de habilidades
impressionantes, como facilidade para aprender visualmente, muita atenção aos
detalhes e à exatidão, capacidade de memória acima da média e grande
concentração em uma área de interesse específica durante um longo período de
tempo.
Assim,
cada indivíduo dentro do espectro vai desenvolver o seu conjunto de sintomas
variados e características bastantes particulares, e tudo isso vai influenciar
como cada pessoa se relaciona, se expressa e se comporta.
Embora
ainda não tenha cura, o TEA pode ser tratado de inúmeras formas. Com apoio de uma equipe multidisciplinar
(diferentes profissionais), a criança pode desenvolver formas de se comunicar
socialmente e de ter maior estabilidade emocional.
Nenhuma
criança com TEA pode ser discriminada em função de suas dificuldades ou
impedida de frequentar qualquer lugar público.
NENHUMA CRIANÇA PODE SER EXCLUÍDA DA ESCOLA!
Existem
diversos sinais de alerta para se detectar o autismo. A orientação dos profissionais de saúde é
para que os pais, professores e/ou responsáveis procurem auxílio médico quando
observarem alguns dos seguintes sinais:
1) Pouco contato visual (a criança não olha quando é chamada pelo nome
ou não sustenta o olhar); 2) Não
interagir com outras pessoas (por exemplo: não interage com outras pessoas por
meio de sorrisos); 3) Bebês que não
fazem jogo de imitação (os bebês começam a imitar comportamentos e atitudes por
volta dos seis a oito meses de vida; portanto, deve-se ficar atento quanto à
ausência desse comportamento); 4) Não
atender quando chamado pelo nome (a criança pode parecer desatenta, pois não
atende quando é chamada pelo nome); 5)
Dificuldade em atenção compartilhada (não demonstra interesse em brincadeiras
coletivas e parece não entender a brincadeira);
6) Atraso na fala (criança acima de dois anos que não fala palavras ou
frases); 7) Não usar a comunicação
não-verbal (não usa as mãos para indicar algo que quer; 8) Comportamentos sensoriais incomuns (se
incomoda com barulhos altos, por vezes colocando as mãos nos ouvidos diante de
tais estímulos, não gosta de toque de outras pessoas, irritando-se com abraços
e carinhos; 9) Não brinca de faz de
conta (não cria suas próprias histórias e não participa das brincadeiras dos
colegas; também não usa de brinquedos para simbolizar personagens; suas
brincadeiras costumam ser solitárias e com parte de brinquedos, como a roda de
um carrinho ou algum botão); 10)
Movimentos estereotipados (apresenta movimentos incomuns, como chacoalhar as
mãos, balançar-se para a frente e para trás, correr de um lado para outro,
pular ou gritar sem motivos aparentes.
Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza
ou ansiedade).
Não
existem pesquisas efetivas sobre a prevalência do autismo em todos os países do
universo, não havendo, portanto, possibilidade de se avaliar com certeza qual o
número de pessoas portadoras do transtorno do espectro autista em todo
mundo. O que existe são divulgações
esparsas do que a mídia nos dá notícia.
Nos Estados Unidos, por exemplo, que é um país considerado
essencialmente estatístico, não existem dados oficiais. Mesmo lá, onde dizem que a pesquisa sobre
autismo é atualizada a cada dois anos, não existem dados oficiais. Ainda recentemente foi divulgada naquele país
uma pesquisa que considerou apenas crianças com exatos 8 anos de idade, quando
foi encontrado um número de 1 em cada 36 crianças naquela faixa etária, o que
significa 2,8% da referida população. No
Brasil e nos demais países do mundo não existem dados ou estatísticas a
respeito. Aqui em nosso país, pelo que
se divulga esporadicamente, é que a população de crianças autistas tem
aumentado significativamente nos últimos anos, principalmente na rede escolar
primária.
O
autor desta mensagem é absolutamente leigo na matéria e, por isso, para
organizar este texto com as considerações acima necessitou contar com: observações técnicas formalizadas por
profissionais envolvidos com o assunto;
análise de entrevistas concedidas por responsáveis especializados; e leitura e considerações exaradas por
técnicos envolvidos com o espectro autista.
A
síndrome do transtorno do espectro autista, principalmente em crianças, tem
aumentado em uma velocidade espantosa em todo mundo.
Levando
em conta que Lions Internacional, principalmente através de projetos que estão
sendo desenvolvidos e aprovados pela LCIF-Fundação Internacional de Lions
Clubes, tem demonstrado acentuado interesse por esta causa que vem assolando a
população mundial de forma avassaladora, tomei a iniciativa de preparar e
apresentar à apreciação do Lions Clube ao qual pertenço, e com base nas
considerações acima, um projeto de recomendação (moção) encimado pela seguinte
ementa: “RECOMENDA QUE A DIRETORIA
INTERNACIONAL INCLUA O TRANSTORNO DO ESPÉCTRO AUTISTA COMO UMA DAS CAUSAS
GLOBAIS DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LIONS CLUBES”. A proposta foi aprovada pela assembléia
do meu Clube, tendo sua Diretoria, em consequência, a encaminhado para
apreciação e aprovação da XXV Convenção Distrital do LC-6, realizada em abril
de 2024. A comissão técnica do referido
evento deu parecer favorável à proposta e a encaminhou para apreciação dos
Delegados credenciados pelos Clubes, que a aprovaram por unanimidade. Em consequência, conforme dispositivos
estatutários, a Governadoria do Distrito LC-6 encaminhou a documentação para
apreciação da Convenção do Distrito Múltiplo LC, realizada em maio de 2024, que
igualmente aprovou a proposta e, face a isso, a Diretoria do DMLC a encaminhou
para apreciação da Diretoria de Lions Internacional.
Assim,
diante da oficialização doa processo, a Diretoria de Lions Internacional está
sendo instada a se manifestar sobre a proposta, que sugere a inclusão do
transtorno do espectro autista como a 9.ª CAUSA GLOBAL de Lions Internacional,
considerando, especialmente, que esta é uma síndrome que atualmente vem
assolando todos os países ao redor do mundo.
Eu
e muitos interessados estamos no aguardo de um pronunciamento de Lions
Internacional. Que o bom Deus ilumine os
membros da Diretoria Internacional na análise da proposta!
Um
fraterno abraço leonístico a todas e a todos.
(*) Associado
do Lions Clube de Ribeirão Preto-Jardim Paulista (LC-6)
Ex-Governador
1997-1998 do Distrito L-17 (atual LC-6)
Membro
da AGDL-Associação dos Governadores dos Distritos Múltiplos “L”
Confrade
da APLIONS-Apaixonados por Lions
E-mail: andriani.ada@gmail.com
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