terça-feira, 26 de novembro de 2024

A INCLUSÃO DO “AUTISMO” COMO UMA DAS CAUSAS GLOBAIS DE LIONS INTERNACIONAL

 

A INCLUSÃO DO “AUTISMO” COMO UMA DAS

CAUSAS GLOBAIS DE LIONS INTERNACIONAL

 

 

PDG MJF ANTONIO DOMINGOS ANDRIANI (*)

 

 

            A Diretoria de Lions Internacional, nos últimos anos, vem procurando situar o movimento leonístico dentro da modernidade, colocando-o ao alcance da globalização.

 

            Tempos atrás, sentindo a vontade dos Leões em se multiplicarem além das fronteiras, oceanos e continentes, e sentindo a vontade de verdadeiramente mudar nosso mundo, Lions Internacional reuniu nosso serviço em torno de 5 áreas de necessidade.  Foi assim que surgiram nossas CAUSAS GLOBAIS voltadas para câncer infantil, diabetes, fome, visão e meio ambiente.  Essas causas globais apresentavam e apresentam desafios significativos para a humanidade, creditando ao nosso movimento uma forma de enfrenta-los.

 

            Durante o ano leonístico de 2023, apesar de já estar causando impacto em todo mundo com aquelas cinco áreas de necessidade, Lions Internacional decidiu oficializar outras 3 causas globais às 5 até então existentes, que são juventude, serviços humanitários e socorro às vítimas de catástrofes.

 

            Tanto é que, atualmente, são oito as CAUSAS GLOBAIS que o leonismo oferece para atendimento às necessidades comunitárias em todo mundo, visando enfrentar a globalização que está à nossa frente.

 

            Estou sugerindo, agora, a apresentação de um fato novo para que seja incluído em nossas causas humanitárias.

 

            O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.

 

Os sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade, e a prevalência maior é registrada no sexo masculino.

 

            A identificação de atrasos no desenvolvimento, o diagnóstico oportuno de TEA e encaminhamento para intervenções comportamentais e apoio educacional na idade mais precoce possível, pode levar a melhores resultados a longo prazo, considerando a neuroplasticidade cerebral.

 

Segundo o “Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DMS-5” (referência mundial de critérios para diagnósticos), pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou integração social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.  Segundo especialistas, todos os pacientes com autismo partilham estas dificuldades, mas cada um deles será afetado em intensidades diferentes, resultando em situações bem particulares.  Apesar de ainda ser chamado de autismo infantil, pelo diagnóstico ser comum em crianças e até bebês, os transtornos são conceitos permanentes que acompanham a pessoa por todas as etapas da vida.

 

            O tratamento oportuno com estimulação precoce deve ser preconizado em qualquer caso de suspeita de TEA ou desenvolvimento atípico da criança, independentemente de confirmação diagnóstica.

 

            As causas do TEA, pelo que se publica, não são totalmente conhecidas, e a pesquisa científica sempre concentrou esforços no estudo da predisposição genética, analisando mutações espontâneas que podem ocorrer no desenvolvimento do feto e a herança genética passada de pais para filhos.  No entanto, já há evidências de que as causas hereditárias explicariam apenas metade do risco de desenvolver TEA.  Fatores ambientais que impactam o feto, como estresse, infecções, exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos teriam o mesmo peso na possibilidade de aparecimento do distúrbio.

 

            A etiologia do espectro autista, pelo que se divulga, ainda permanece desconhecida.  Evidências científicas apontam que não há uma causa única, mas sim a interação de fatores genéticos e ambientais.  A interação entre esses fatores parece estar relacionada ao TEA, porém é importante ressaltar que “risco aumentado” não é o mesmo que causa fatores de risco ambientais.  Os fatores ambientais podem aumentar ou diminuir o risco de TEA em pessoas geneticamente predispostas.  Embora nenhum desses fatores pareça ter forte correlação com aumento e/ou diminuição dos riscos, a exposição a agentes químicos, deficiência de vitamina D e ácido fólico, uso de substâncias (como ácido valpróico) durante a gestação, prematuridade (com idade gestacional abaixo de 35 semanas), baixo peso ao nascer, gestações múltiplas, infecção materna durante a gravidez e idade parental avançada são considerados fatores contribuintes para desenvolvimento do TEA.

 

Evidências indicam influência de alterações genéticas com forte herdabilidade, mas trata-se de um distúrbio geneticamente heterogêneo que produz heterogeneidade fenotípica (características físicas e comportamentais diferentes, tanto em manifestação como em gravidade).  Apesar de alguns genes e algumas alterações estarem sendo estudadas, os especialistas da área ressaltam que não há nenhum biomarcador específico para TEA.

 

            O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos.  Instrumentos de vigilância do desenvolvimento infantil são sensíveis para detecção de alterações sugestivas de TEA, devendo ser devidamente aplicados durante as consultas de puericultura na “Atenção Primária da Saúde”.  O relato/queixa da família acerca de alterações no desenvolvimento ou comportamento da criança tem correlação positiva com confirmação diagnóstica posterior, por isso, valoriza o relato/queixa da família e é fundamental durante o atendimento da criança.

 

            Manifestações agudas podem ocorrer e, frequentemente, o que se consegue é observar são sintomas de agitação e/ou agressividade, podendo haver auto ou heteroagressividade.  Estas manifestações ocorrem por diversos motivos, como dificuldade em comunicar algo que gostaria, alguma cor, algum incômodo sensorial, entre outros.  Nestes momentos é fundamental tentar compreender o motivo dos comportamentos que os profissionais observam, para então propor estratégias que possam ser efetivas.  Dentre os procedimentos possíveis os profissionais especialistas indicam:  estratégias comportamentais de modificação do comportamento, uso de comunicação suplementar e/ou alternativa como apoio para compreensão/expressão, estratégias sensoriais, e também procedimentos mais invasivos, como contenção física e mecânica, medicações e, em algumas situações, intervenções em unidades de urgência/emergência.

 

            O TEA é resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental.

 

            O TEA afeta o comportamento da criança, e que, os primeiros sinais podem ser notados em bebês nos primeiros meses de vida.  No geral, uma criança com transtorno de espectro autista pode apresentar os seguintes sinais:  1) Dificuldade para interagir socialmente, como manter o contato visual, identificar expressões faciais e compreender gestos comunicativos, expressar as próprias emoções e fazer amigos;  2) Dificuldade na comunicação, caracterizado por uso repetitivo da linguagem e dificuldade para iniciar e manter diálogo;  3) Alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas e dificuldade de imaginação.

 

            O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 rotula estes distúrbios como um espectro justamente por se manifestarem em diferentes níveis de intensidade.  Uma pessoa diagnosticada como de grau 1 de suporte apresenta prejuízos leves, que podem não a impedir de estudar, trabalhar e se relacional.  Um indivíduo com grau 2 de suporte tem um menor grau de independência e necessita de algum auxílio para desempenhar funções cotidianas, como tomar banho ou preparar sua refeição.  Já o autista com grau 3 de suporte vai manifestar dificuldades graves e costuma precisar de apoio especializado ao longo da vida.

 

            Por outro lado, o diagnóstico de TEA pode ser acompanhado de habilidades impressionantes, como facilidade para aprender visualmente, muita atenção aos detalhes e à exatidão, capacidade de memória acima da média e grande concentração em uma área de interesse específica durante um longo período de tempo.

 

            Assim, cada indivíduo dentro do espectro vai desenvolver o seu conjunto de sintomas variados e características bastantes particulares, e tudo isso vai influenciar como cada pessoa se relaciona, se expressa e se comporta.

 

            Embora ainda não tenha cura, o TEA pode ser tratado de inúmeras formas.  Com apoio de uma equipe multidisciplinar (diferentes profissionais), a criança pode desenvolver formas de se comunicar socialmente e de ter maior estabilidade emocional.

 

            Nenhuma criança com TEA pode ser discriminada em função de suas dificuldades ou impedida de frequentar qualquer lugar público.  NENHUMA CRIANÇA PODE SER EXCLUÍDA DA ESCOLA!

 

            Existem diversos sinais de alerta para se detectar o autismo.   A orientação dos profissionais de saúde é para que os pais, professores e/ou responsáveis procurem auxílio médico quando observarem alguns dos seguintes sinais:  1) Pouco contato visual (a criança não olha quando é chamada pelo nome ou não sustenta o olhar);  2) Não interagir com outras pessoas (por exemplo: não interage com outras pessoas por meio de sorrisos);  3) Bebês que não fazem jogo de imitação (os bebês começam a imitar comportamentos e atitudes por volta dos seis a oito meses de vida; portanto, deve-se ficar atento quanto à ausência desse comportamento);  4) Não atender quando chamado pelo nome (a criança pode parecer desatenta, pois não atende quando é chamada pelo nome);  5) Dificuldade em atenção compartilhada (não demonstra interesse em brincadeiras coletivas e parece não entender a brincadeira);  6) Atraso na fala (criança acima de dois anos que não fala palavras ou frases);  7) Não usar a comunicação não-verbal (não usa as mãos para indicar algo que quer;  8) Comportamentos sensoriais incomuns (se incomoda com barulhos altos, por vezes colocando as mãos nos ouvidos diante de tais estímulos, não gosta de toque de outras pessoas, irritando-se com abraços e carinhos;  9) Não brinca de faz de conta (não cria suas próprias histórias e não participa das brincadeiras dos colegas; também não usa de brinquedos para simbolizar personagens; suas brincadeiras costumam ser solitárias e com parte de brinquedos, como a roda de um carrinho ou algum botão);  10) Movimentos estereotipados (apresenta movimentos incomuns, como chacoalhar as mãos, balançar-se para a frente e para trás, correr de um lado para outro, pular ou gritar sem motivos aparentes.  Os movimentos podem se intensificar em momentos de felicidade, tristeza ou ansiedade).

 

            Não existem pesquisas efetivas sobre a prevalência do autismo em todos os países do universo, não havendo, portanto, possibilidade de se avaliar com certeza qual o número de pessoas portadoras do transtorno do espectro autista em todo mundo.  O que existe são divulgações esparsas do que a mídia nos dá notícia.  Nos Estados Unidos, por exemplo, que é um país considerado essencialmente estatístico, não existem dados oficiais.  Mesmo lá, onde dizem que a pesquisa sobre autismo é atualizada a cada dois anos, não existem dados oficiais.  Ainda recentemente foi divulgada naquele país uma pesquisa que considerou apenas crianças com exatos 8 anos de idade, quando foi encontrado um número de 1 em cada 36 crianças naquela faixa etária, o que significa 2,8% da referida população.  No Brasil e nos demais países do mundo não existem dados ou estatísticas a respeito.  Aqui em nosso país, pelo que se divulga esporadicamente, é que a população de crianças autistas tem aumentado significativamente nos últimos anos, principalmente na rede escolar primária.

 

            O autor desta mensagem é absolutamente leigo na matéria e, por isso, para organizar este texto com as considerações acima necessitou contar com:  observações técnicas formalizadas por profissionais envolvidos com o assunto;  análise de entrevistas concedidas por responsáveis especializados;  e leitura e considerações exaradas por técnicos envolvidos com o espectro autista.

 

            A síndrome do transtorno do espectro autista, principalmente em crianças, tem aumentado em uma velocidade espantosa em todo mundo.

 

            Levando em conta que Lions Internacional, principalmente através de projetos que estão sendo desenvolvidos e aprovados pela LCIF-Fundação Internacional de Lions Clubes, tem demonstrado acentuado interesse por esta causa que vem assolando a população mundial de forma avassaladora, tomei a iniciativa de preparar e apresentar à apreciação do Lions Clube ao qual pertenço, e com base nas considerações acima, um projeto de recomendação (moção) encimado pela seguinte ementa:  “RECOMENDA QUE A DIRETORIA INTERNACIONAL INCLUA O TRANSTORNO DO ESPÉCTRO AUTISTA COMO UMA DAS CAUSAS GLOBAIS DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE LIONS CLUBES”.  A proposta foi aprovada pela assembléia do meu Clube, tendo sua Diretoria, em consequência, a encaminhado para apreciação e aprovação da XXV Convenção Distrital do LC-6, realizada em abril de 2024.  A comissão técnica do referido evento deu parecer favorável à proposta e a encaminhou para apreciação dos Delegados credenciados pelos Clubes, que a aprovaram por unanimidade.  Em consequência, conforme dispositivos estatutários, a Governadoria do Distrito LC-6 encaminhou a documentação para apreciação da Convenção do Distrito Múltiplo LC, realizada em maio de 2024, que igualmente aprovou a proposta e, face a isso, a Diretoria do DMLC a encaminhou para apreciação da Diretoria de Lions Internacional.

 

            Assim, diante da oficialização doa processo, a Diretoria de Lions Internacional está sendo instada a se manifestar sobre a proposta, que sugere a inclusão do transtorno do espectro autista como a 9.ª CAUSA GLOBAL de Lions Internacional, considerando, especialmente, que esta é uma síndrome que atualmente vem assolando todos os países ao redor do mundo.

 

            Eu e muitos interessados estamos no aguardo de um pronunciamento de Lions Internacional.  Que o bom Deus ilumine os membros da Diretoria Internacional na análise da proposta!

 

            Um fraterno abraço leonístico a todas e a todos.

 

 

 


 

(*)       Associado do Lions Clube de Ribeirão Preto-Jardim Paulista (LC-6)

            Ex-Governador 1997-1998 do Distrito L-17 (atual LC-6)

            Membro da AGDL-Associação dos Governadores dos Distritos Múltiplos “L”

            Confrade da APLIONS-Apaixonados por Lions

            E-mail:  andriani.ada@gmail.com

           

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